Sexta, 13 Março 2020 11:41

O impacto do vírus e o “crash” na indústria de shows, um mercado de US$ 26 bilhões

Leo Feijó - Jornalista, pesquisador e coordenador do Programa “Música & Negócios” do Instituto Gênesis da PUC-Rio. Criou diversas casas de shows no Rio e está vivendo em Londres, onde cursa o mestrado em Economia Criativa e Indústria da Música. Leo Feijó - Jornalista, pesquisador e coordenador do Programa “Música & Negócios” do Instituto Gênesis da PUC-Rio. Criou diversas casas de shows no Rio e está vivendo em Londres, onde cursa o mestrado em Economia Criativa e Indústria da Música.

A Live Nation perdeu US$ 1 bilhão em valor de mercado com a crise nas bolsas de valores em todo o mundo.

No dia 10 de março, a companhia tinha valor de mercado de US$ 10,8 bilhões. Diante das incertezas e cancelamentos, no dia 12 o valor caiu a US$ 9,01 bilhões.

Uma das maiores companhias de entretenimento ao vivo no mundo, a Live Nation está presente em mais de 40 países e adquiriu recentemente, no Brasil, a posição majoritária no Rock in Rio.

Empresas de eventos e conferências estão diante de um cenário de caos. Eventos importantes como o SXSW e o festival Coachella, ambos nos Estados Unidos, foram cancelados (ou, no mínimo, adiados).

Turnês de bandas como Pearl Jam ou de artistas como Madonna seguiram o mesmo rumo. O impacto da coronavírus, classificado como pandemia pela Organização Mundial da Saúda (OMS), é visível.

Uma realidade que já reflete no mercado brasileiro.

A indústria de concertos fatura US$ 26 bilhões por ano. Além de gerar prejuízos com os adiamentos, a indústria de shows sofre com a impossibilidade de planejamento.

A imprevisibilidade gera mais insegurança. Afinal, quando esse surto classificado como pandemia passará? Em três meses? Ou seriam seis meses? Quem sabe?

 

Em Portugal, MIL e UFGC cancelados

 

As ações dos governos foram diferentes em cada país. Portugal suspendeu eventos como a Feira MIL – Lisbon International Music Network e a Urban Futures Global Conference (UFGC), com representantes de mais de 300 cidades no mundo.

Na Itália, foi determinado o fechamento de universidades e escolas e a suspensão total de atividades com reunião de público, enquanto o Reino Unido preferiu recomendar auto-isolamento de sete dias para quem apresentar sintomas.

Shows agendados em Londres, por enquanto, estão confirmados. Morrissey, ex-vocalista da banda The Smiths, se apresenta na SSE Arena, em Wembley, nos próximos dias.

Nos Estados Unidos, voos com origem a Europa foram proibidos (com exceção do Reino Unido). Os parques da Disney ficarão fechados até o fim do mês. A NBA suspendeu os jogos.

No Brasil, cidades como Brasília já anunciaram que não devem conceder alvará para eventos em área pública.

É possível que Rio de Janeiro e São Paulo sigam a mesma linha de ação. O Lollapalooza Brasil está a um passo de ser adiado.

Essa restrição a shows e eventos valoriza o ambiente digital, naturalmente.

 

Serviços de streaming já foram inundados com playlists tendo o coronavírus como inspiração, se é que é possível pensar assim. “Quarentine Party” é uma delas.

Certamente plataformas como Netflix, Amazon Prime Video e Apple TV devem ter picos de acesso a filmes e séries.

Se todos ficarão mais restritos a Spotify e outros serviços, é possível. Se isso pode compensar financeiramente as perdas da indústria da música, é cedo para dizer.

Mas é muito provável que o aumento de consumo de música nos meios digitais não consiga chegar nem perto da queda de receita com os shows.

 

Efeito da tragédia “Kiss” no Brasil em 2013

 

Músicos, DJs, produtores e toda a cadeia produtiva da indústria da música e de eventos estão perdendo gigs e contratos.

O impacto nas finanças individuais é evidente.

Quem sobrevive sem trabalhar em uma economia cada vez mais informal e baseada na categoria do “self-employed”?

Espaços com capacidade média e pequena, como bares e casas de shows, podem até ganhar um fôlego, uma vez que a recomendação, na maioria dos países – incluindo o Brasil - é para evitar grandes eventos.

Ainda que isso ocorra, é inevitável a redução de público por uma tendência de comportamento associado à prevenção.

No Brasil, essa crise poderia ser comparada à ocorrida em 2013. Depois da tragédia ocorrida na casa noturna “Kiss”, no Rio Grande do Sul, foram fechados por precaução casas de shows, teatros e espaços de eventos em todo o País.

 

Existe seguro contra o vírus?

 

A ordem em 2013 era fechar primeiro e perguntar depois. Isso diante de uma legislação ultrapassada, e em que não há transferência na maioria dos órgãos públicos responsáveis pela regulação e fiscalização.

Foi um cenário de quebradeira e dificuldades no setor da música ao vivo. Deixou várias casas fechadas pelo caminho, mas a normalidade voltou, dentro do possível.

A maioria dos eventos nos EUA e no Reino Unido não estavam protegidos por esse tipo de situação. Em geral, estão protegidos em caso de ataques terroristas, furacões e inundações.

O fato é que esse novo caos provocado pelo vírus resulte em uma situação financeira delicada para muitas empresas. De qualquer tamanho, em qualquer território.

A ação do governo será fundamental para evitar um “crash” geral na economia. Linhas de crédito simples e subsidiadas para pequenas e médias empresas ou para quem atua como MEI, por exemplo, seriam úteis.

Aperte os cintos e pesquise sobre a sua apólice de seguro (se é que você tem uma).

O mundo parou, mas você não pode descer.

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Leo Feijó é jornalista, pesquisador e coordenador do Programa “Música & Negócios” do Instituto Gênesis da PUC-Rio. Criou diversas casas de shows no Rio e está vivendo em Londres, onde cursa o mestrado em Economia Criativa e Indústria da Música.
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Última modificação em Sexta, 13 Março 2020 17:05

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